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Foto do escritorAlex Stein

Ignorância Eterna de uma Sociedade sem Lembranças



Responda essa pergunta: Uma construção de 100 anos pode ser considerada antiga?


Enquanto você pensa sobre a resposta, convido você a acessar esse link e escutar a música que eu separei para compor a trilha sonora durante a nossa conversa sobre um tema bastante intrigante e profundo: o tempo.


--- Pausa para a música iniciar ---


Voltando à pergunta, acredito que você tenha chegado à mesma resposta que a minha: Depende de quem responde.


Para algumas pessoas, uma construção de 100 anos pode ser considerada muito antiga, enquanto para outras, pode ser considerada contemporânea.


Veja, por exemplo, uma criança com poucos anos de vida. Com certeza a sua referência de tempo é muito diferente de alguém na casa dos 80, e suas respostas serão, provavelmente, muito opostas entre si.


Sempre me lembro de quando eu era criança e olhava para os meus avós. Todos pareciam velhos para mim e acredito que você também já tenha pensado o mesmo sobre os seus.

=]


Mas percebo que uma outra questão pode influenciar quem responde a esta pergunta, além da sua idade: o tempo de história da sociedade em que esta pessoa está inserida.


É muito provável que uma brasileira, ou brasileiro médio (que tem conhecimento mediano sobre fatos gerais) irá dizer que uma construção de 100 anos é antiga, enquanto uma indiana, ou indiano médio, irá dizer que é uma construção contemporânea (eu dei o exemplo de alguém da Índia, mas poderia ser alguém de qualquer outra sociedade milenar).


E creio que isto ocorre porque a nossa história possui pouco mais de 500 anos, enquanto a indiana possui mais de 3 mil, pelo menos.


Eu sei que a história do Brasil não começou com a chegada dos portugueses, mas é só a partir de 1500 que ela é ensinada nas escolas. O que é uma infelicidade, pois perdemos muito como sociedade e nação em não estudar e respeitar o que aconteceu antes dessa data, assim como não estudar a história pelo lado daqueles que tiveram suas terras roubadas.


Aliás, para eles, as coroas europeias é que são os bandidos da história, ou os Darth Vaders (pra quem gosta de Star Wars). Deixo esse link pra você ler um pouquinho mais sobre o assunto (mas já vamos falar mais sobre História).


Como vivemos, e nos relacionamos com cidades com menos de 500 anos (a cidade brasileira mais antiga, Cananéia, só vai fazer 500 anos em 2031 - mais, aqui) podemos ter uma sensação de que construções de 100 anos são muito antigas.


E olha que interessante essa informação: dos 5.770 municípios brasileiros (mais, aqui), 3.990 deles foram criados entre 1940 e 2010 (mais, aqui). Ou seja, mais de 2/3 das nossas cidades possuem menos de 80 anos.


Agora, vem a contradição.


Mesmo achando que algumas construções históricas são muito antigas, temos o péssimo hábito de não cuidarmos delas. Isso quando não as colocamos abaixo em nome de um suposto “progresso”.


Não cuidamos do nosso patrimônio histórico e preferimos passear em shopping centers a visitar museus.


Os motivos para isso são inúmeros, como a falta de investimentos na manutenção e valorização dos próprios patrimônios, ou em educação e capacitação de cidadania (mais, aqui). Mas as questões econômicas e, consequentemente, políticas são as que mais resultam nessa falta de interesse (mais, aqui e aqui).


A minha cidade - Itajaí (SC) - foi fundada em 1833 e emancipada em 1860 (vou computar quase 190 anos de história). No dia 17 de agosto de 2014, o complexo de prédios que abrigavam a Fábrica de Papel Itajahy, construído em 1913, foi demolido sem autorização das autoridades municipais (mais, aqui).


Jornais locais informavam que a fábrica vinha sendo demolida lentamente dois meses antes (mais, aqui). Mas somente em 2017 ela foi completamente colocada ao chão (mais, aqui).


Mais ou menos a mesma coisa aconteceu com a agência central dos Correios da cidade. Um complexo de dois prédios construídos em momentos distintos da história, em um terreno gigantesco, no centro da cidade.


Um deles era relativamente novo, e não possuía uma característica arquitetônica. Foi um “puxadinho” sem preocupação em preservar as características do primeiro prédio, esse sim, construído em estilo Art decó, em 1943.


Ambos foram colocados abaixo pela prefeitura da cidade em 2019 (mais, aqui) e até hoje me pergunto por que não demoliram apenas o “puxadinho”, preservando a parte histórica daquele patrimônio.


Aconselho a leitura do livro Memória da Destruição, criado pela Prefeitura do Rio de Janeiro em 2002, para mostrar a necessidade de preservarmos o nosso patrimônio cultural e histórico e para “contribuir para que fatos lamentáveis na nossa história urbana não se repitam, pois toda cidade é a soma das ações e omissões de seus governantes e, principalmente, de seus cidadãos”.


Mantemos um nível elevado de ignorância quando destruímos elementos físicos positivos da nossa história, mesmo que “relativamente” nova (se contarmos apenas a parte que aprendemos como História do Brasil na escola), quando ignoramos o que havia antes da chegada dos portugueses, quando calamos o ponto de vista não europeu, e quando glorificamos aqueles que fizeram mal à sociedade.


Uma sociedade avançada e acolhedora é composta de cidadãos e cidadãs sensibilizados sobre a necessidade de manter viva a sua história, seja através dos seus patrimônios arquitetônicos, históricos, culturais materiais (físicos) e imateriais (não físicos).


E é com o objetivo de promover essa sensibilização para a preservação de todos os esses patrimônios que a Civisporã elabora o seu trabalho, seja na publicação de conhecimento nos seus canais, seja produzindo camisetas para nós, seres humanos, e nossos amigos peludos.


Sempre com o propósito de sensibilizar a população de que a sociedade atual é o resultado daquilo que somos no dia a dia, e de que nossas atitudes transformam a sociedade, positiva – ou negativamente.



Alguns dos artigos apresentados aqui no Sermoré da Civisporã, ou nos textos estampados nas suas camisetas, podem parecer um pouco duros, pois repreendem atitudes prejudiciais; outros apresentam um convite a juntar “lé com cré”; outros são motivacionais.


Mas todos eles nos fazem pensar e possuem o mesmo objetivo: lembrar que somos nós que construímos o Brasil e que cabe a nós melhorar a nossa sociedade. Sociedade esta que se iniciou no encontro dos colonizadores portugueses com os nativos indígenas que aqui já viviam.


E é refletindo esse início do nosso país que está estampado o propósito fundamental da CIVISPORÃ:

CIVIS: Sociedade, em Latim.

PORÃ: Boa/m, bonita/o, melhor, em Tupi.

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