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Modernidade Selvagem




E pensar que já chegamos em 2022 e ainda há trabalho escravo no Brasil, e no mundo.


Será que os verdadeiros abolicionistas acreditariam se alguém lhes dissesse que no século XXI ainda haveria trabalho escravo?


E os escravocratas?


Provavelmente diriam: “Tá vendo? O futuro dos ‘businessess’ tem a escravidão no seu núcleo”.


No dia 28 de janeiro comemora-se o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo e por conta da data que se aproxima, eu te convido a conhecer um pouco mais sobre o que ainda acontece no Brasil (e no mundo), seja em fazendas ou cidades, e como ela - a escravidão - moldou o nosso país do jeito que é hoje.


Mas antes de começarmos, deixo esse link pra você escutar uma música e entrar no clima, enquanto conversamos.


--- Pausa para a música iniciar ---



O início da escravidão no Brasil para a extração dos primeiros “produtos” de interesse econômico para a coroa portuguesa (pau brasil) se deu logo após a chegada dos colonizadores a “terras brasilis”, com a captura dos brasileiros originários que aqui já viviam.


Conforme o tempo foi passando, e o objetivo da coroa na nova colônia mudava para a produção de cana-de-açúcar, a utilização do trabalho escravo indígena foi sendo trocado pelo trabalho escravo africano, e os motivos dessa troca estava nos prejuízos causados por esta forma de escravidão: guerras entre etnias e colonos, fugas de indígenas sem possibilidade de recuperação, conflitos entre colonos e jesuítas pela posse dos nativos, entre outros (mais, aqui).


Além disso, o tráfico de mão de obra escrava africana se tornou extremamente lucrativo para mercantilistas, companhias de navegação, além da coroa portuguesa, que lucravam - todos - com cada trecho de viagem dos barcos entre Brasil, Europa e África, levando, em cada um desses trechos, “produtos” específicos de venda para o local de destino: o chamado uso massivo do meio de transporte.


A escravidão foi tão lucrativa que o nosso país foi um dos últimos a aboli-la, em 1888, (o último a exterminar legalmente esta prática horrenda no nosso planeta foi a Mauritânia, em 1981, quase 100 anos depois do Brasil. Mais, aqui).


Para você ter ideia, mesmo se dizendo contrário à escravidão, Dom Pedro II hesitou em extingui-la o quanto pôde, para se manter no poder o máximo possível, sempre tentando agradar a gregos e troianos, ops, escravagistas (latifundiários conservadores) e abolicionistas (profissionais urbanos progressistas).


Aliás, para se esquivar de momentos críticos de decisões políticas, o monarca viajava e permanecia por meses no velho mundo. E foi na terceira (e última) viagem à Europa como imperador do Brasil, que sua filha, Isabel, assinou a abolição, em 13 de maio de 1888.


O resto da história, se você não conhece, aconselho a leitura do livro Brasil: uma biografia, de Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling.


Mas se você não curte ler, aconselho assistir ao vídeo abaixo com os spoilers dessa “obra de ficção” (#sqn). Quem sabe você não se empolga e a lê.

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As mazelas resultantes da escravidão legal no nosso país, e do processo da sua abolição (onde milhões e milhões de negros foram largados à sorte sem casa, comida, escola, capacitação, profissão) estão aí até hoje, e as nossas favelas são apenas UMA prova delas.


E se já não bastasse tais mazelas resultantes da escravidão, a sua prática - ilegal, lógico - simplesmente teima em se perpetuar por fazendas do interior do país, onde “businessmen” da melhor “catiguria” escravizam necessitados e miseráveis que são convencidos a trabalharem e “fazerem dinheiro” em seus agronegócios.


Só que a realidade não demora a aparecer, pois logo após chegarem nestas fazendas, descobrem que só podem consumir produtos do(s) mercado(s) da fazenda, que precisam pagar o aluguel de suas camas, da alimentação, da água, do uniforme (quando há).


E nessa de terem que pagar por produtos e serviços do “businessman”, que são sempre mais caros do que o normal, vão se endividando, pois seus salários não são suficientes para pagar suas “compras”.


O filme Pureza (2019), com Dira Paes, conta a história real de Pureza, uma mãe que, na busca pelo seu filho aliciado por fazendeiros por uma oportunidade de emprego, desmascara um esquema de trabalho escravo contemporâneo, levando auditores fiscais do Trabalho até o local do crime.


O filme é daqueles de arrepiar e chorar várias vezes, com cenas magníficas e memoráveis. Num determinado momento, o diretor, Renato Barbieri, retrata Dira Paes no papel da Pietá, de Michelangelo. Simplesmente emocionante.


Dê uma olhadinha no trailer e assista o quanto antes.





A propósito, o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo foi instituído no dia 28 de janeiro por conta do assassinato de auditores fiscais do Trabalho durante a inspeção numa fazenda acusada de trabalho escravo, ocorrido em 28 de janeiro de 2004 (mais, aqui).


Acredito que ainda temos um tempinho pra escutar mais uma música superbacana para o resto da nossa conversa. Deixo mais esse link pra você escutá-la (tem tudo a ver também).


--- Mais uma pausa para a música iniciar ---


Como eu disse lá no comecinho do artigo, a escravidão contemporânea está presente em fazendas ou cidades. E é nelas, nas cidades, que ela toma uma forma que aumenta ainda mais os resultados danosos para toda a sociedade como um todo (não que a escravidão no campo não seja danosa).


Você já deve ter ouvido de casos como os de bolivianos em situação de trabalho escravo que vivem e trabalham em casebres superlotados e insalubres (mais, aqui, aqui, aqui e aqui).


Com a promulgação da lei da terceirização (Lei 13.429, de 31 de março de 2017), o número de casos de bolivianos (não se limitando a eles) escravizados aumentou significativamente.


E isso não é uma mera coincidência.


Se você gosta de entender os fatos, sugiro ler este artigo científico, que trás dados sobre o caso dos bolivianos que trabalham na indústria têxtil brasileira de forma análoga ao de escravos.


Nos mesmos moldes do “agrobusiness”, os capatazes urbanos obrigam os imigrantes ilegais a alugarem e viverem em seus “depósitos de gente”, comprando e usufruindo dos serviços e produtos designados por eles, gerando dívidas impossíveis de serem pagas.


Para manter esta submissão, os imigrantes são chantageados com possíveis denúncias à autoridade imigratória brasileira e deportações aos seus países de origem. Alguma coincidência com o que ocorre nos Estados Unidos NÃO é mera coincidência (mais, aqui, aqui e aqui - textos em Inglês).


E o resultado dessa barbárie você vê exposto em milhares de vitrines país (e mundo) afora. Pois muitas marcas gigantes da moda contratam empresas que produzem roupas - através de trabalho análogo ao escravo - que ganham suas etiquetas (mais, aqui e aqui).


Se você quiser tomar uma atitude que pode ajudar a exterminar essa selvajaria, recomendo baixar o APP Moda Livre, criado pela Repórter Brasil. A proposta dele é trazer informações reais, obtidas junto com as marcas e pesquisas sobre sua veracidade, para que você possa consumir produtos relacionados à moda de forma consciente.


Além disso, aconselho pesquisar se as marcas que vendem os produtos e serviços que você consome sustentam qualquer tipo de trabalho análogo ao escravo.


Afinal de contas, se não houver consumidores de mercadorias e serviços produzidos com este tipo de mão de obra, não há escravidão. Concorda comigo?


Por isso a necessidade de promover conscientização. Pois somente uma população conscientizada é capaz de construir uma sociedade melhor.


E é exatamente com o propósito de promover conscientização que a Civisporã elabora o seu trabalho, seja na publicação de conhecimento nos seus canais, seja produzindo camisetas para nós, seres humanos, e nossos amigos peludos.


Sempre com o propósito de sensibilizar a população de que a sociedade atual é o resultado daquilo que somos no dia a dia, e de que nossas atitudes transformam a sociedade, positiva – ou negativamente.



Alguns dos artigos apresentados aqui no Sermoré da Civisporã, ou nos textos estampados nas suas camisetas, podem parecer um pouco duros, pois repreendem atitudes prejudiciais; outros apresentam um convite a juntar “lé com cré”; outros são motivacionais.


Mas todos eles nos fazem pensar e possuem o mesmo objetivo: lembrar que somos nós que construímos o Brasil e que cabe a nós melhorar a nossa sociedade. Sociedade esta que se iniciou no encontro dos colonizadores portugueses com os nativos indígenas que aqui já viviam.


E é refletindo esse início do nosso país que está estampado o propósito fundamental da CIVISPORÃ:

CIVIS: Sociedade, em Latim.

PORÃ: Boa/m, bonita/o, melhor, em Tupi.


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