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Quem não é visto, não é lembrado!
Essa é uma máxima básica que estudantes de publicidade e propaganda aprendem logo no início do curso. Aliás, na nossa sociedade de mercado, me parece que até as crianças conhecem essa frase logo que começam a entender o sentido de compra e venda.
As teorias de comunicação e de análises de discursos que os bacharéis de comunicação social estudam e pesquisam nos cursos de jornalismo, publicidade e propaganda, relações públicas, entre outros, são algumas das ferramentas que os comunicadores utilizam para compor e transmitir suas ideias.
E embora a publicidade pareça ser aquela que mais tenta seduzir a audiência da mensagem a agir de alguma forma, não dá para dizer quem mais tem esse objetivo com o processo de comunicação, afinal, todos os comunicadores possuem o objetivo de persuadir sua audiência. Mas uma coisa é possível afirmar sem a necessidade de uma pesquisa aprofundada, ou mesmo científica: Pessoas não brancas de todos os gêneros (inclusive agêneros) e condições sexuais são as menos representadas na comunicação de apelo positivo dentro dos grandes veículos de comunicação nacional, assim como as chamadas minorias de classe.
O que isso significa?
Significa que a maior parte da sociedade brasileira não é visibilizada no seu próprio país. E quando é, geralmente está apresentada nas formas mais absurdas e pejorativas, como indígenas preguiçosos, negros traficantes, homossexuais pedófilos, mulheres sexualizadas, entre tantas outras.
Estrangeiros que nunca vieram ao Brasil podem acreditar que quase não há negros no país, só por assistirem novelas brasileiras. Por sinal, a população negra brasileira quase não se vê em comerciais de TV e em posições de destaque de programas de TV e noticiários (mais, aqui). Embora essa realidade venha mudando, o seu ritmo ainda é muito lento e a quantidade de personagens negros de conotação negativa em conteúdos audiovisuais ainda é maior do que aqueles de conotação positiva (mais, aqui).
Algumas cidades brasileiras são vendidas turisticamente como gay friendly (amistosas à comunidade LGBTQIA+) em busca do famoso pink money (consumo gay), mas a realidade é que o Brasil continua sendo o país que mais mata transexuais no mundo há 12 anos (mais, aqui) e a crescente violência contra a comunidade LGBT inviabiliza um título gay frienldy autêntico e confiável, mesmo às cidades brasileiras ditas liberais (mais, aqui). Tais violências são causadas por uma série de fatores, como desigualdades econômicas, sistema de justiça ineficaz, mas também por uma enorme ignorância sociocultural, causada, também, pela falta de visibilidade positiva desta população dentro da nossa sociedade.
Inúmeras populações indígenas são massacradas em suas próprias terras, em guerras contra posseiros, grileiros e toda a sorte de interesses econômicos com o único objetivo de extração de minerais e exploração de suas terras e águas (mais, aqui). Uma guerra silenciosa para a grande parte da sociedade brasileira, que consome informação desvirtuada sobre quem são os brasileiros originários, cujos antepassados tiveram suas terras roubadas por colonizadores europeus e ainda são retratados como seres inferiores por conta de seus hábitos e culturas. Para se ter ideia da ignorância, muita gente ainda acredita que todos indígenas são iguais e não devem ter direito à tecnologia, produtos de consumo, devendo permanecer afastados da sociedade moderna (mais, aqui).
O caso das mulheres é ainda mais ofensivo a sociedade, visto que, independe de cor, raça, credo, condição sexual e social, entre outros. Há normas veladas quanto as formas de corpo, tipo de cabelo, modo de vestir, jeito de agir que são admitidos aos homens, mas não às mulheres (mais, aqui). E isso se reflete em vários ambientes da sociedade, desde o ambiente familiar até os espaços formais de poder. Um bom exemplo do que estou falando se retrata na quantidade de pessoas que ainda se opõem a prática do topless em praias brasileiras (mais, aqui).
Você pode estar se perguntando o que fazer para mudar esta situação, e tornar nossa sociedade realmente plural, acolhedora, liberal e progressista.
Na verdade, são uma série de ações que precisam ser executadas, principalmente no espectro estatal, onde políticas públicas eficazes devem ser formuladas e implementadas. Mas todas passam pelas mãos estratégicas da comunicação. E é justamente por saber que quem não é visto não é lembrado, que tenho a certeza de que só teremos indígenas respeitados, negros prestigiados, LGBTQIA+s reconhecidos, mulheres empoderadas quando este discurso estiver estampado nos meios de comunicação de massa do nosso país.
E é justamente para ajudar na promoção este tipo de comunicação que a CIVISPORÃ desenvolve o seu trabalho, produzindo camisetas para nós, seres humanos, e nossos amigos peludos, com o propósito de conscientizar a população de que a sociedade atual é o resultado daquilo que somos no dia a dia, e de que nossas atitudes transformam a sociedade, positiva – ou negativamente.
Alguns dos textos estampados nas suas camisetas podem parecer um pouco duros, pois repreendem atitudes prejudiciais; outros apresentam um convite a juntar “lé com cré”; outros são motivacionais. Mas todos eles nos fazem pensar e possuem o mesmo objetivo: lembrar que somos nós que construímos o Brasil e que cabe a nós melhorar a nossa sociedade. Sociedade esta que se iniciou no encontro dos colonizadores portugueses com os nativos indígenas que aqui já viviam.
E é refletindo esse início do nosso país que está estampado o propósito fundamental da CIVISPORÃ:
CIVIS: Sociedade, em Latim.
PORÃ: Boa/m, bonita/o, melhor, em Tupi.
* Foto Nathan Van de Graaf em Unsplash
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