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Foto do escritorAlex Stein

Vocação



“O que você quer ser quando crescer?”

Tenho certeza de que você já ouviu essa pergunta, pelo menos, uma vez quando criança, e acredito que muitos de nós acabou mudando as respostas com o passar do tempo.


As causas dessas mudanças são compreensíveis. Pode ser porque a pessoa é apresentada a uma possibilidade nova e mais tentadora. Pode ser, também, porque observa-se que aquilo que deixaria a criança feliz não cabe mais ao que a pessoa adulta deseja.


Quantos de nós já não pensou em ser astronauta e, com o tempo, o espaço não era mais acessível na vida adulta? Ou ainda aquela vontade de ser bombeiro(a/e) na idade infantil, mas a descoberta do salário mudou o foco para uma profissão que pudesse render o necessário para adquirir os sonhos de consumo?


Eu lembro da primeira vez que viajei de avião e logo em seguida decidi que iria trabalhar dentro de um. Meu pai me levou à cabine dos pilotos (sim, até o ataque das torres gêmeas, em setembro de 2001, era possível visitá-las) e até curti a visão mais ampla do céu e aquele monte de reloginhos. Mas o que tinha me fascinado mesmo era a movimentação na cabine de passageiros. Eu tinha 5 anos, e embora as respostas à pergunta inicial deste texto tenham mudado algumas vezes, o fascínio pela aviação nunca tinha saído da cabeça, e aos 20 anos, lá estava eu trabalhando como comissário de voo na VASP (mais, aqui). Um tempo depois fui trabalhar na famosa estrela brasileira - a saudosa Varig (mais, aqui), mas, no final das contas, acabei saindo da aviação e me embrenhei na publicidade e no empreendedorismo.


A questão de estar trazendo um pouco da minha história é porque eu me reconheço como um cidadão proveniente da classe média, em sentido amplo (já que existe uma série de classes sociais, que vão muito além das famosas baixa, média e alta). Nunca fiz parte do topo da pirâmide (aliás, não estou nem abaixo desse topo, porque também não sou milionário), mas também não estou na base dela. E foi essa condição social que me fez acreditar por muito tempo num termo muito discutido hoje em dia: a MERITOCRACIA, que, em poucas palavras, indica que cada um tem o que justamente merece, por conta dos seus esforços em estudos e trabalhos.


E é sobre isso que eu proponho que você reflita a partir dessa leitura.


Será que há meritocracia em países como o Brasil, onde as desigualdades sociais são gigantescas? Onde o acesso às instituições de ensino de qualidade é para poucos? Onde muitos não possuem tempo para se dedicar 100% aos estudos por que precisam trabalhar já na adolescência?


Por conta da situação financeira da minha família, eu tive acesso a instituições de ensino de determinada qualidade, onde pude me dedicar 100% aos estudos. Eu até cheguei a trabalhar nos 2 últimos anos do ensino médio, mas não por necessidade familiar, e sim, porque eu queria, contando que o foco fosse os estudos.


Durante todo esse tempo eu fiz amizades, com quem criei uma rede de contatos - ou como os “farialimers” (entenda o termo aqui) gostam de falar: “networking”. É lógico que essa rede de contat... ops... esse networking (termos em inglês são chiques em países como o nosso) cresceu por conta dos locais onde trabalhei também, mas não podemos nos esquecer que esses trabalhos foram conseguidos graças ao meu histórico sociocultural e, por conta disso, todas as oportunidades que tenho hoje são fruto disso.


Pois bem. Agora eu quero que você imagine a vida do bilionário Pedro Bueno, filho do fundador da Amil, que aos 23 anos de idade se tornou o CEO da DASA, uma das empresas do grupo (mais, aqui). Quero que você tente visualizar o tipo das instituições de ensino que ele frequentou, o tempo fora dessas instituições em que pode se dedicar para a sua capacitação profissional, a rede de contatos que fez nelas (e por conta delas), além de todas as oportunidades que ele possui hoje, frutos do seu histórico sociocultural.


Por fim, quero que você imagine a vida do Eduardo, um dos filhos da dona Maria, que trabalhou um tempo na minha casa como diarista, além de outras, totalizando sua semana de serviços domésticos de segunda a sábado. Tente visualizar as instituições de ensino que ele frequentou, e saiba que, aos 14 anos, teve que começar a trabalhar 40 horas semanais como entregador de água e gás (para ajudar nas despesas da casa) e, por conta disso, passou a estudar a noite, dormindo em sala de aula algumas vezes, devido ao cansaço do trabalho. Largou a escola antes de completar o ensino médio e hoje, com a mesma idade do Pedro, trabalha como borracheiro na periferia de São Paulo.


Antes de continuar, quero enfatizar que o meu objetivo não é denegrir a imagem de ninguém, seja do Pedro, minha, ou do Eduardo. Quero apenas que você visualize como é formada a nossa sociedade e responda sinceramente se podemos falar em MERITOCRACIA em países como o Brasil, assim como em países como os Estados Unidos que, embora não apresentem desigualdades tão escancaradas como aqui, também as possuam.


Para ajudar no seu processo de visualização, convido você a assistir o vídeo abaixo, sobre uma corrida por 100 dólares (é rapidinho) e dar uma olhada na historinha desse link.



E se você acha que não dá pra piorar a situação, os dados indicam que, em 2021, a taxa de brasileiros na pobreza chegou aos 30% da população (algo em torno de 65 milhões de habitantes) e na pobreza extrema, aos 10% (por volta dos 22 milhões), fazendo do Brasil o 2º país mais desigual do mundo. Mais, aqui e aqui.


De resto, tudo isso implica em uma coisa chamada PERSPECTIVA DE VIDA, tema que vou abordar no próximo artigo, fechando, assim, a segunda trilogia do “Sermoré (Palavra Amiga) da Civisporã”, junto com o texto EFEITO BORBOLETA, que eu gostaria muito que você lesse também (link, aqui).


Mas por que eu espero que você leia todos estes textos?

Porque a gente só pode atuar sobre determinada coisa quando compreendemos que ela existe... e como existe.


E por que é importante que você atue?

Porque isso tudo interfere diretamente no seu dia a dia, já que quanto maior a desigualdade social, maior a chance de você, ou alguém que você ama, sofrer algum crime.


E é nesse espírito de ação que a CIVISPORÃ desenvolve o seu trabalho, produzindo camisetas para nós, seres humanos, e nossos amigos peludos, com o propósito de conscientizar a população de que a sociedade atual é o resultado daquilo que somos no dia a dia, e de que nossas atitudes transformam a sociedade, positiva – ou negativamente.


Alguns dos textos estampados nas suas camisetas podem parecer um pouco duros, pois repreendem atitudes prejudiciais; outros apresentam um convite a juntar “lé com cré”; outros são motivacionais. Mas todos eles nos fazem pensar e possuem o mesmo objetivo: lembrar que somos nós que construímos o Brasil e que cabe a nós melhorar a nossa sociedade. Sociedade esta que se iniciou no encontro dos colonizadores portugueses com os nativos indígenas que aqui já viviam.


E é refletindo esse início do nosso país que está estampado o propósito fundamental da CIVISPORÃ:

CIVIS: Sociedade, em Latim.

PORÃ: Boa/m, bonita/o, melhor, em Tupi.

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