Um dos primeiros artigos que escrevi para o Sermoré foi O Reino de Click que, por sua causa, recebi agradecimentos por disponibilizar um exercício bacana de empatia e reflexão sobre o tema indígena, do qual precisamos discutir amplamente na sociedade brasileira.
E como ontem (19/04) foi o Dia da Diversidade Indígena, quero falar um pouco mais daquilo que aprendi nos últimos anos, conhecendo pessoas e consumindo informação produzida por aqueles que lidam com esta questão.
Mas antes de começar, convido você a escutar Nazoni na (parte da obra de Heitor Villa Lobos) e cantada aqui por Milton Nascimento e Marlui Miranda (mais informações sobre esta obra, aqui).
--- Pausa para a música iniciar ---
Há dois anos eu fiz uma viagem que deveria percorrer uma grande parte do nosso país, mas que, por motivos maiores, ficou restrita a um quarto daquilo que havia sido planejado.
Os dois dias que eu permaneceria em Brasília se transformaram em duas semanas. O que tornou possível conhecer uma pessoa e um lugar que guardo no coração, como dois dos maiores presentes daquela aventura: Aline Freitas e o Memorial dos Povos Indígenas (aconselho conhecer ambos).
A Aline é Bibliotecária e Gerente de Acervos e Arquivos do GDF (Governo do Distrito Federal) e foi ela quem proporcionou uma visita guiada (por ela própria e todo o seu conhecimento) dentro daquele local FABULOSO, que está situado em frente ao Memorial JK, no Eixo Monumental de Brasília.
Foram algumas horas de conhecimento e aprendizado sobre os diversos povos indígenas do nosso país, me emocionando de tal maneira que, chorar, ao final da apresentação, era tudo o que me restava, escutando milhares de línguas faladas por esta diversidade de culturas que vivem no Brasil.
No meio do Memorial - criado por Oscar Niemeyer - estavam dispostos várias dezenas de troncos, rodeados de caixas de som que reproduziam as línguas representadas por cada um destes troncos.
Em cada um deles estava pintado em tinta preta o nome da língua representada, assim como uma faixa vermelha, cuja grossura indicava a quantidade de pessoas falantes dela.
Fiquei impressionado com a diversidade de línguas e costumes diferentes entre os nossos povos indígenas. Aliás, indígena, que significa “originário”, ou “aquele que está ali antes dos outros”, antônimo de alienígena, ou “aquele que vem de fora” (alguma lembrança com O Reino de Click?).
Durante as horas de aprendizado sobre os vários povos indígenas (ou originários) do Brasil, consegui compreender para além do fato de que tudo o que estava aqui foi invadido e roubado pelos colonizadores: A catequização ocorre até hoje, para o consentimento (a fórceps) de que as culturas invadidas são inferiores à invasora.
Aconselho MUITO você a ler essa entrevista, com o escritor Daniel Munduruku (doutor em educação, pela USP, e pós-doutor em Linguística, pela Universidade Federal de São Carlos). É rapidinha.
Aliás, vou terminar este artigo por aqui, justamente para que você a leia - já que o lugar de fala do Daniel é imensamente mais qualificado do que o meu sobre esse assunto - e para que você tenha a mesma oportunidade que eu tive em rever conceitos sobre ele.
Afinal, é com um imenso desejo de revermos conceitos que a Civisporã elabora o seu trabalho, seja na publicação de conhecimento nos seus canais, seja produzindo camisetas para nós, seres humanos, e nossos amigos peludos.
Sempre com o propósito de sensibilizar a população de que a sociedade atual é o resultado daquilo que somos no dia a dia, e de que nossas atitudes transformam a sociedade, positiva – ou negativamente.
Alguns dos artigos apresentados aqui no Sermoré da Civisporã, ou nos textos estampados nas suas camisetas, podem parecer um pouco duros, pois repreendem atitudes prejudiciais; outros apresentam um convite a juntar “lé com cré”; outros são motivacionais.
Mas todos eles nos fazem pensar e possuem o mesmo objetivo: lembrar que somos nós que construímos o Brasil e que cabe a nós melhorar a nossa sociedade. Sociedade esta que se iniciou no encontro dos colonizadores portugueses com os nativos indígenas que aqui já viviam.
E é refletindo esse início do nosso país que está estampado o propósito fundamental da CIVISPORÃ:
CIVIS: Sociedade, em Latim.
PORÃ: Boa/m, bonita/o, melhor, em Tupi.
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