No início dos anos 1980 uma nova doença começava a assustar o planeta, em especial homens gays de grandes cidades, como Nova York, São Francisco e Londres. Embora o seu nome oficial fosse AIDS (sigla para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em inglês), a doença foi chamada de “câncer gay” durante, mais ou menos, os 10 primeiros anos de ignorância sobre o que ela realmente era.
Para quem viveu e lembra dos anos 1980 e primeira metade dos anos 1990, tanto HIV quando AIDS foram termos que geraram estigma, trazendo pesadelo e um carimbo de morte para quem contraía o vírus, ou a doença (entenda a diferença entre HIV e AIDS, clicando aqui).
No dia da publicação deste artigo - 1º de dezembro - comemora-se o dia internacional da luta contra a AIDS. Deixo este link para a música do Beto Lee, cantada por sua mãe (Quem? Quem? Quem?) para você escutá-la ao seguir a leitura sobre este tema.
Sim, a AIDS foi pesadelo e medo para muita gente durante muito tempo (não que não tenha um peso negativo hoje em dia, mas nada comparado àquela época) e até hoje não se sabe exatamente de onde a doença se originou, embora existam teorias, como esta aqui.
Para você ter ideia (se não vivenciou aquela época), pense que, até o início dos anos 1980, quando ela ganhou os noticiários, a revolução sexual tinha se iniciado nas grandes metrópoles do mundo uns 15 anos antes, com o desenvolvimento da pílula anticoncepcional, dos movimentos feministas e homossexuais, dos grandes shows de rock, da popularização do uso recreacional de drogas entre os jovens... da contracultura (mais, aqui).
Pensar no uso da camisinha para o ato sexual até a epidemia da AIDS ser declarada era o mesmo que alguém sair de guarda-chuvas aberto num lindo dia de sol. E com os relatos da doença vitimar apenas homens gays, os “guarda-sóis” continuaram fechados para as relações sexuais heterossexuais durante muitos anos após a descoberta da doença.
Historiadores dizem que o conservadorismo político vigente da época e a demora da maioria dos governos das grandes potências econômicas em investir no estudo e busca pela cura da doença foi um dos grandes fatores do estouro da epidemia.
O filme The Normal Heart retrata bem o tratamento dado pelos políticos da época, que fecharam os olhos para os cidadãos homossexuais e a crença de que a doença era uma “ira divina” contra o comportamento homossexual, que feria os preceitos cristãos.
Outros filmes premiados que contam como foi os anos sem tratamento para a AIDS, o preconceito com a comunidade gay e o descaso do governo são Filadélfia, O Ano de 1985, Clube de Compras Dallas, além do brasileiro Os Primeiros Soldados. Já um ótimo documentário para assistir e que aborda o preconceito (que existe até hoje) é Carta para Além dos Muros (aconselho assistir a todos).
Durante anos, mesmo depois de se ter certeza de que a doença não era transmissível pelo contato físico, o preconceito de muitos ainda forçava os infectados a viverem reclusos (mais, aqui).
Foi preciso a ação de uma das pessoas mais conhecidas e adoradas da época para que muitos revessem suas atitudes preconceituosas: no dia 19 de abril de 1987, a Princesa Diana chocou milhões de pessoas ao apertar a mão de um paciente soropositivo sem o uso de luvas. (mais, aqui).
Artistas que foram infectados pelo vírus resistiam em confirmar que eram portadores do HIV, e todos que emagreciam rapidamente viravam alvos de investigações e manchetes em jornais, revistas e tabloides.
Nos primeiros 15 anos da epidemia, muitas estrelas do cinema, da televisão, do teatro e da música faleceram com a doença. Alguns viraram motivo de deboche e piadas de mal gosto, por conta de suas condições sexuais, já que a AIDS os havia “cuspido” para fora do armário.
A imensa maioria nunca pode confirmar que havia contraído o HIV, fosse por questões de preconceito com relação à doença, fosse por conta da possibilidade de perder trabalhos na indústria do faz-de-conta. Cazuza foi o primeiro grande artista brasileiro a se abrir, mas depois de negar ser soropositivo algumas vezes. Mais, aqui.
Aliás, ainda vou escrever sobre a crueldade que teimar em se manter nessa indústria que exige, principalmente dos atores galãs, uma postura heterossexual para vender seus filmes, seriados e novelas. Mais, aqui.
Hoje, 40 anos depois dos primeiros casos relatados, muito mudou. Descobriu-se que o vírus não escolhe idade, cor, gênero, condição sexual, posição econômica, social ou cultural... Mas ele ainda existe (mais, aqui).
E por mais que a ciência (ah, ciência, sua linda - mais, aqui) e os governos progressistas tenham possibilitado o tratamento da doença com antirretrovirais a toda população (alterando o status de “doença sem tratamento” para “doença crônica” - mais, aqui), o preconceito e a hipocrisia parecem não possuir o mesmo tratamento tão eficaz (lembre que a homofobia, por exemplo, só foi considerada crime graças a interpretação da legislação constitucional, por parte do STF).
E é com o desejo imenso de erradicar o preconceito e a hipocrisia que a Civisporã elabora o seu trabalho, seja na publicação de conhecimento nos seus canais, seja produzindo camisetas para nós, seres humanos, e nossos amigos peludos. Sempre com o propósito de conscientizar a população de que a sociedade atual é o resultado daquilo que somos no dia a dia, e de que nossas atitudes transformam a sociedade, positiva – ou negativamente.
Alguns dos textos estampados nas suas camisetas podem parecer um pouco duros, pois repreendem atitudes prejudiciais; outros apresentam um convite a juntar “lé com cré”; outros são motivacionais. Mas todos eles nos fazem pensar e possuem o mesmo objetivo: lembrar que somos nós que construímos o Brasil e que cabe a nós melhorar a nossa sociedade. Sociedade esta que se iniciou no encontro dos colonizadores portugueses com os nativos indígenas que aqui já viviam.
E é refletindo esse início do nosso país que está estampado o propósito fundamental da CIVISPORÃ:
CIVIS: Sociedade, em Latim.
PORÃ: Boa/m, bonita/o, melhor, em Tupi.
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