Quero falar de uma coisa. Mas pra isso, quero que você escute uma das músicas mais lindas que eu conheço e no qual deixo este link pra você acessar e escutar enquanto lê este artigo. Durante esse processo, peço que você adivinhe onde essa coisa anda. Se ela está dentro do seu peito, ou se caminha pelo ar.
Eu vou falar sobre aprender a ser humano, sobre se tornar cidadão, sobre aprender a ser... sobre Ser Estudante.
Embora a idade escolar esteja compreendida entre os 4 (pré-escola) e 17 anos, não há um limite de idade para ser um estudante escolar. Milhares, aliás, acabam sentando num banco de escola já na idade adulta, ou mesmo na 3ª idade, ingressando no EJA (Educação para Jovens e Adultos), cujo objetivo está no desenvolvimento do ensino fundamental e médio para aqueles que passaram dos 17 anos, ainda mais em um país onde mais da metade não concluiu a educação básica (mais, aqui).
Mas também sabemos que o termo “estudante” vai além daquele que é utilizado para quem está em uma escola, já que é comum chamar de estudante aquele, ou aquela, que estuda numa academia (universidade/faculdade), mesmo sabendo que o correto seria utilizar a palavra acadêmico, ou acadêmica.
Eu prefiro dizer que nunca deixamos de ser estudantes, pois, sempre estamos aprendendo alguma habilidade ou conhecimento novos, ainda mais hoje em dia, que muito pode ser estudado através do universo da internet.
Mas não podemos negar que o processo de aprendizagem formal (com uma forma definida) é de extrema importância, principalmente para aprender e internalizar as qualidades básicas necessárias para o convívio em sociedade e, também, para que possamos construir uma sociedade onde todos possam viver dignamente, senão em comunhão com todos, mas dentro do respeito necessário para uma convivência harmônica, saudável, democrática e em paz.
E isso passa pela escola.
É nela que aprendemos os primeiros passos na convivência social com os outros, além daqueles com quem convivemos nos primeiros anos da nossa história de vida: o familiar.
E a família de hoje é muito diferente daquela dos séculos passados. Ela é muito mais abrangente, vai além do pai, mãe e filhos. Muitas famílias são compostas de outros personagens. Podem ser duas mães, dois pais, uma mãe, ou um pai. Pode ser composta de crianças que vivem com seus avós, ou tios (mas vou deixar para falar sobre famílias em outro artigo, que será postado em breve... aguarde).
Os passos para o desenvolvimento da aceitação do(s) outro(s) passa pela escola. E estou falando em aprender a tolerância, o que não significa tolerar a intolerância.
Aliás, é a intolerância das pessoas que deve ser extirpada, e não a vida dos intolerantes. E para alguns intolerantes, esse processo pode ter que passar por uma escola mais dura, como uma penitenciária, por exemplo.
E é justamente aqui que eu gostaria de “enfiar o dedo na ferida”.
Da mesma forma que a maioria das nossas penitenciárias não cumprem o que deveriam (sugiro dar uma lida no artigo Escolas do Atraso, caso não tenha acompanhado os últimos que postei), muitas das nossas escolas também não.
E por quê?
Muito simples: Vivemos em uma sociedade desigual. Desigual nas regiões, nas cidades, nos bairros, na condição social das pessoas que vivem nessa nossa sociedade. E essa desigualdade se alimenta de desigualdade, reproduzindo mais desigualdade.
Como exemplo, posso destacar a situação de que há escolas onde a presença negra é tão insignificante, quando não inexistente. Conheço algumas escolas com mais de 3 mil alunos que se chegar a 10 alunas e alunos pretos, é muito. Conheço uma onde nunca vi uma criança negra.
E o que isso ensina de convivência para quem tem e pode tudo?
Em compensação, nas escolas públicas, mesmo na minha cidade, aqui em Santa Catarina (onde a população preta é menor em comparação com estados nordestinos), a quantidade de pretos e pretas aumenta exponencialmente.
E por quê?
Porque somos um país com histórico escravocrata. Esse câncer da nossa história, que mantém uma realidade que não teima em sumir de um presente tão desbotado e ultrapassado (em pleno 2021). E que replica uma situação em que a maioria da população branca tem acesso aos privilégios que o planeta oferece, e a maioria da população negra, não.
E tudo passa pela escola, com diferenças tão gritantes entre aquelas cuja mensalidade pode passar dos 5 salários-mínimos mensais e aquelas que não possuem mensalidade. Afinal, nessa selva social que vivemos e replicamos, onde é preciso se destacar para alcançar as melhores oportunidades da vida, aqueles que mais podem já largam próximo da chegada.
Os estudantes que vêm de famílias que podem pagar pela capacitação dos seus descendentes geralmente possuem 100% do seu tempo livre para se dedicar a esta capacitação, enquanto aqueles que vêm de famílias que não podem desembolsar pelos estudos dos filhos, a grande maioria acaba tendo que largar os estudos para poder trabalhar e sobreviver, ou dividir o tempo entre trabalho e estudos.
Eu abordo esse tipo de “meritocracia” mais a fundo no artigo Vocação, ao qual sugiro uma lida também.
A pergunta é: que tipo de cidadãos nossos estudantes vão se tornar, ao se capacitarem em escolas tão diferentes?
Afinal, todos vão se relacionar entre si em algum momento da vida, seja na prestação de serviço, na subordinação de trabalho, na indignidade da esmola, na tristeza do crime.
“..., mas renova-se a esperança, nova aurora a cada dia. E há que se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor e fruto.”
E é com o intuito de fazer você se questionar sobre coisas da nossa realidade que a Civisporã desenvolve o seu trabalho, seja produzindo conteúdo aqui no Sermoré (e breve em outros formatos), seja na produção de camisetas para nós, seres humanos, e nossos amigos peludos, com o propósito de conscientizar a população de que a sociedade atual é o resultado daquilo que somos no dia a dia, e de que nossas atitudes transformam a sociedade, positiva – ou negativamente.
Alguns dos textos estampados nas suas camisetas podem parecer um pouco duros, pois repreendem atitudes prejudiciais; outros apresentam um convite a juntar “lé com cré”; outros são motivacionais. Mas todos eles nos fazem pensar e possuem o mesmo objetivo: lembrar que somos nós que construímos o Brasil e que cabe a nós melhorar a nossa sociedade. Sociedade esta que se iniciou no encontro dos colonizadores portugueses com os nativos indígenas que aqui já viviam.
E é refletindo esse início do nosso país que está estampado o propósito fundamental da CIVISPORÃ:
CIVIS: Sociedade, em Latim.
PORÃ: Boa/m, bonita/o, melhor, em Tupi.
“..., alegria e muito sonho, espalhados no caminho. Verde planta e sentimento. Folhas, coração, juventude e fé.”
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