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Atualizado: 16 de dez. de 2021



E finalmente vamos conversar sobre o tema do último artigo desta pequena trilogia sobre segurança pública no Brasil (se você não leu os dois anteriores, aproveita para abri-los, clicando aqui e aqui).


Antes de começar, eu gostaria de relembrar que o assunto “segurança pública” é muito profundo para ser descrito em apenas três artigos com pouco mais de mil palavras cada um e muito mais complexo do que se pode imaginar, pois envolve inúmeros fatores, como choques de interesses, divisões sociais, construção legal (do sistema jurídico nacional), nível de conhecimento da população brasileira... e por aí vai.


Embora a resolução do problema “segurança pública” seja extremamente complicada, o que dá motivo a ele - violência - é muito mais simples do que pode parecer, e se resume a estas duas palavras: DESIGUALDADE SOCIAL. E para o artigo de hoje, separei uma música para você escutar enquanto lê. Deixo esse link para você acessá-la.


E se você acompanha os artigos que eu escrevo para o Sermoré da Civisporã, já deve ter reparado que, em muitos deles, sempre acabo tocando neste tema, pois é justamente aí que reside a esmagadora maioria das nossas mazelas sociais.


Se você tem medo de ser violentado/a de madrugada, culpe a desigualdade social. Se você tem medo de levar um tiro de bala perdida, culpe a desigualdade social. Se você precisa instalar um alarme na sua casa por conta dos assaltos, culpe a desigualdade social. Para a esmagadora maioria dos casos ligados à violência e a criminalidade no nosso país, acredite... a culpa é da desigualdade social.


É claro que há crimes que não possuem conexão com esta situação, como os passionais, por exemplo, os quais estão geralmente associados à violência doméstica. Mas como eu expliquei anteriormente, a grande maioria dos crimes ligados à segurança pública está conectada à desigualdade social.


Inúmeras pesquisas apontam que o a desigualdade de renda é significativa na associação com os crimes contra a propriedade (mais, neste link), mas é este estudo, da FEA-RP /USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP de Ribeirão Preto) que apresenta uma relação dos dados GINI (índice que mede o grau de concentração de renda em determinado país, através da diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos, sendo o valor zero a total igualdade de renda de todos deste grupo) com os indicadores de segurança pública.


Aconselho a leitura, mas já adianto que, quanto maior a desigualdade, maior o índice de criminalidade. Aliás, há um ponto muito interessante nele: se a cidade possui um nível de renda alto, assim como do seu desenvolvimento, maior são os crimes contra o patrimônio. Uma relação lógica, pois, quanto maior o nível de riqueza dentro de determinada sociedade desigual, mais possibilidades destes tipos de crimes.


O que me faz pensar em algumas questões: Adianta aumentar o potencial econômico de uma determinada sociedade, se esta riqueza não é bem distribuída?


Quem mais sofre com a criminalidade nestes locais? Aqueles que estão mais próximos do topo da pirâmide e vivem em ilhas de segurança, locomovendo-se rodeados de seguranças, em carros blindados, helicópteros e jatos particulares? Ou a classe média, que possui bens, mas não pode arcar com tais itens de segurança?


A desigualdade social no Brasil é uma questão histórica, que se deu início já no momento de colonização, com a apropriação indevida das terras indígenas por parte dos portugueses, além da imposição cultural destes sobre os brasileiros originários (mais, aqui).


Mas foi a escravidão que realmente amplificou as questões de desigualdade no nosso país.


O sociólogo, advogado, professor e escritor Jesse Souza explica nos seus livros “Como o racismo criou o Brasil” e “A elite do atraso” como este passado triste da nossa história colocou pretos (ou negros, como queiram) vivendo, na sua maioria, nos subúrbios e favelas das cidades brasileiras, sendo eles as principais vítimas de uma realidade que causa mal a todos nós.


Aconselho a leitura urgente destas duas obras para entender bem (ou assista aos vídeos dos links acima), mas vou fazer um breve resumo, para que você visualize como a nossa sociedade chegou na realidade atual:


Com o fim da escravidão e a chegada dos imigrantes europeus para trabalhar nas lavouras, os homens pretos não conseguem trabalho, pois não possuem qualificação em outras áreas da economia e, quando conseguem se manter na lavoura, recebem menos que os imigrantes europeus. Motivo pelo qual vivem, ou de bicos, ou do crime.


Já as mulheres, capacitadas para o trabalho doméstico (devido ao trabalho que exerciam nas casas grandes) são as que conseguem trabalho de domésticas nas casas de pessoa abastadas, situação que se perpetua durante os séculos de nossa história.


Com renda extremamente escassa e problemas familiares estruturais causados pela falta dela (principalmente do marido), pretos passam a viver em locais pobres, “amontoando-se” em favelas, com muitos casos de criminalidade, e brancos vivem na parte urbanizada da cidade, já que possuem capacitação e, consequentemente, renda para tal.


Cidades e regiões onde a escravidão era menor possuem, hoje, melhores índices econômicos e sociais que aquelas onde a escravidão era maior. Um dos grandes motivos pelo qual a região sul do país possui índices diferentes das regiões nordeste, por exemplo.


Ou seja... nossa realidade de desigualdade social e consequentes altas taxas de criminalidade são resultado da falta de capacitação humana e investimento nas pessoas. Situação que ainda se perpetua nos dias de hoje, só que de forma diferente.


Gostaria muito que você lesse os artigo Efeito Borboleta, Descapacitados, Vocação e A Miséria Nossa de Todo Dia (se não os leu ainda), pois é neles que estão as respostas de como resolver as questões de segurança pública no Brasil. Questões que afetam você, eu e mais de 95% de toda a população brasileira que, como disse antes, não possui condições de viver em ilhas de segurança.


Mas será que viver nessas ilhas, cercados de seguranças, não podendo viver livremente, estando sempre com medo, é bom para os 5% restantes?


Não seria mais inteligente dividir melhor esta riqueza toda que produzimos e investir na capacitação do mendigo, do pedinte de semáforo, do flanelinha, daqueles que catam comida no caminhão do lixo, ou nos aterros sanitários e lixões espalhados pelo país?


Distribuir renda, investir no social e na capacitação dos mais necessitados faz bem para você, para mim e para toda a nossa sociedade.


E é por acreditar 100% nisso que a Civisporã publica artigos todas as quartas-feiras sobre temas relacionados à sociedade, pois entende que faz parte dela e, como tal, possui uma grande responsabilidade dentro desse enorme grupo de pessoas que vivem juntas.


Além disso, produz camisetas para nós, seres humanos, e nossos amigos peludos, conscientizando a população de que a sociedade atual é o resultado daquilo que somos no dia a dia, e de que nossas atitudes transformam a sociedade, positiva – ou negativamente.



Alguns dos textos estampados nas suas camisetas podem parecer um pouco duros, pois repreendem atitudes prejudiciais; outros apresentam um convite a juntar “lé com cré”; outros são mais motivacionais. Mas todos eles nos fazem pensar e possuem o mesmo objetivo: lembrar que somos nós que construímos o Brasil e que cabe a nós melhorar a nossa sociedade. Sociedade esta que se iniciou no encontro dos colonizadores portugueses com os nativos indígenas que aqui já viviam.


E é refletindo esse início do nosso país que está estampado o propósito fundamental da CIVISPORÃ:

CIVIS: Sociedade, em Latim.

PORÃ: Boa/m, bonita/o, melhor, em Tupi.

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